22/01/2022

Pesquisa revela impacto das dificuldades do trabalho na saúde mental dos profissionais da enfermagem

O trabalho contou com a participação de 719 participantes que se voluntariaram a compartilhar suas experiências.

Desenvolvido durante a pandemia, o artigo “O neoliberalismo e a precarização do trabalho em enfermagem na pandemia de COVID-19: repercussão na saúde mental” ganhou as páginas da Revista de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho conta com a participação de três professoras da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e aponta uma relação próxima entre a precarização do trabalho na pandemia e o adoecimento psicológico dos profissionais da enfermagem. O resultado da pesquisa já está disponível para leitura online, clicando aqui.

Foto: Getty Imagens

Para o desenvolvimento do artigo, foram coletados relatos de profissionais residentes nas cinco regiões do país. Ao todo foram 719 participantes que se voluntariaram a compartilhar suas experiências no trabalho durante a pandemia de Covid-19. Deste número 116 foram de Mato Grosso, sendo 94 enfermeiros, 20 técnicos e duas obstetrizes.

De acordo com uma das pesquisadoras do artigo, a professora da UFMT Larissa Rezio, o objetivo do trabalho é contribuir para o debate sobre a precarização do trabalho da enfermagem e publicizar essas condições. “Todos esses dados precisam ser publicizados para que se fortaleça a discussão sobre esse assunto, e também para que os profissionais consigam se aproximar das associações. Só assim vamos conseguir superar essa individualização do trabalhador que está presente no neoliberalismo, no mundo do trabalho como um todo”, disse Larissa.

Professora Larissa Rezio durante evento científico. | Foto: Arquivo pessoal

Ainda segundo Larissa Rezio, a pandemia intensificou uma série de problemas que já acompanhavam o trabalho dos profissionais da enfermagem anteriormente. “Pode se pensar ainda que a precarização do trabalho também está presente quando a gente fala da assistência aos profissionais da enfermagem. Não suporte psicossocial para esses trabalhadores que convivem com o medo constante de se contaminarem e de contaminar seus familiares”, revelou a professora.

Resultados da pesquisa

O artigo apresenta dados de que faltaram Equipamentos de Proteção Individual (EPI), houve situações de remanejamento de funções, longas jornadas de trabalho, entre outros problemas que antecedem a pandemia de Covid-19, mas que foram intensificadas com ela.

“Trabalhar na linha de frente desta pandemia não tem sido fácil, somos cada dia menos valorizadas, não dispomos de equipamentos ideais para desenvolver nosso trabalho, não temos um salário merecido, nosso adicional noturno é mínimo e a sobrecarga de trabalho é enorme”, relatou uma das profissionais que respondeu a pesquisa do artigo.

Além disso, a pesquisa também cita os relatos sobre os sentimentos desses profissionais durante o combate a pandemia: “Eu mato um leão por dia, tomo todo dia dois comprimidos de calmante natural e assim eu vou levando (…) já teve óbito de uma colega, estou com muito medo”.

Outro participante também comentou sobre o assunto: “Me sinto triste pela profissão de enfermagem, que está sofrendo tanto com a pandemia, e por ser a primeira a sofrer (…) tem sido triste perder os seus amigos e colegas de profissão devido à falta de Equipamento de Proteção Individual”.

De acordo com Larissa, muitos profissionais relataram que a imagem heroica da profissão de enfermagem também contribui para uma descaracterização da Enfermagem enquanto profissão.

“Um ponto que vai ficar para uma próxima publicação é a questão do heroísmo da enfermagem. Este assunto foi citado por vários participantes como uma questão que contribui na descaracterização das condições precárias de trabalho”, finalizou.

A pesquisa contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e Ministério da Saúde (MS).

Fonte: Ascom / Coren-MT




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